terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A esquizofrenia e seus aspectos de inclusão social



Resumo: A esquizofrenia causa muito sofrimento ao paciente e as pessoas ao seu redor, onde acabam todos se tornando vitimas da doença e causa de preconceito. A reinserção social, inclusão da família e da comunidade no tratamento são recursos utilizados para a promoção da saúde mental, para que os portadores de transtornos mentais tenham uma melhor qualidade de vida, uma vez que este transtorno psicótico possa ocasionar dificuldades à sua vida social. Ao abordarmos os aspectos que levam a vida social de pacientes com diagnóstico de esquizofrenia, enfatizamos a participação e o comportamento em atividades comunitárias e de lazer e a interação interpessoal com familiares e amigos.  
Palavras-chave: inclusão social, esquizofrenia, relações sociais. 
Introdução
O presente artigo tem como objetivo apresentar a situação dos esquizofrênicos em meio à sociedade, tomando como base aspectos culturais e familiares, classificando a psicopatologia esquizofrenia segundo o CID - 10, onde "os transtornos esquizofrênicos são caracterizados em geral por distorções fundamentais e características de pensamentos e percepções e por afeto inadequado ou embotado, a perturbação envolve as funções mais básicas que dão a pessoa normal um senso de individualismo único e direção de si mesmo". É classificada em:
  1. Esquizofrenia Paranoide
  2. Esquizofrenia Hebefrênica
  3. Esquizofrenia Simples
Considerando que a esquizofrenia não tem cura e afeta tanto homens quanto mulheres, costuma dar seus primeiros sinais a partir dos 18 anos. É justamente nessa fase que a pessoa está entrando no mercado de trabalho ou começando uma faculdade, onde, no caso dos esquizofrênicos, passam a sofrer dificuldades. Para o entendimento deste assunto é necessária a definição de fatores históricos, sociais e culturais.
No Brasil, entre as décadas de 1970-80, ao lado das lutas sindicais surgiram novos movimentos que lutavam pelos direitos dos negros, das mulheres, dos homossexuais e de outros grupos vulneráveis, entre estes grupos, surgiu o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, iniciado na década de 1970. Objetivado pela discussão acerca das características da assistência psiquiátrica oferecida nos manicômios às pessoas com transtornos mentais no Brasil. O Manicômio como uma instituição total, revelou-se desde a criação como um espaço de violência e arbitrariedade sobre as pessoas que acolhia. Sua estrutura se apresenta como desumana e ineficiente por seus resultados desastrosos, constituindo-se um lugar de sofrimento e dor, onde os pacientes, sem direito à defesa, são submetidos a maus tratos, privação de sua liberdade, de seu direito à cidadania e à participação social. Esta luta foi aderida não somente pelos profissionais da área, como também pelos usuários do serviço, tendo como principal conquista a circulação do sujeito no campo social. Foi um movimento que procurou estabelecer a socialização.
"Existe a ideia de que o louco precisa adaptar-se à vida fora dos hospitais, mas esse movimento é necessário também por parte da sociedade que vai receber. Não se pode esperar que o louco se enquadre ao ordenamento neurótico, mas a convivência é possível." (Ferreira E. D., 2007, p. 23).
A luta pela Reforma Psiquiátrica se liga a estratégias de difusão e ampliação das inovações institucionais construídas no campo da saúde mental. No interior desse movimento visualizam-se as associações, usuários e familiares, bem como os movimentos sociais que tem como bandeira a luta antimanicomial. Esses espaços constituem-se uma identidade coletiva orientada para uma ação política dirigida a conquista de uma maior visibilidade social, dos princípios da Reforma Psiquiátrica.
Com o avanço da tecnologia e sua influência sobre todas as áreas, inclusive no avanço da saúde mental, o paciente com algum tipo de transtorno psicológico recebe tratamentos que o incentivam a procurar sua inserção na sociedade. Marcada por preconceitos e desigualdades sociais, ao passo que, os esquizofrênicos são classificados como inferiores em relação aos que não apresentam distúrbios mentais.
O principal fator de inclusão social dos esquizofrênicos são os aspectos familiares (relação familia - paciente), pois a esquizofrenia é entendida como causada por eventos externos em relação ao individuo doente, onde a doença é percebida como um problema de toda a família e não apenas do enfermo. O paciente esquizofrênico sofre com sua condição e sua família também, não há como isto ser evitado. Esta é vista como desestruturada, fria, indiferente ou mesmo hostil ao paciente. Da mesma forma que o paciente esquizofrênico sofre duas vezes, pela doença e pelo preconceito, a família também sofre duas vezes, com a doença do filho e com a discriminação e incompreensão social. A família é o principal elemento no cuidado dos pacientes esquizofrênicos, pois estes ficam cada vez mais com seus familiares.
"Independente de seus desejos, os familiares tem que traduzir o mundo para o seu familiar esquizofrênico, e às vezes funcionam como psicoterapeutas, consolando, ajudando, aconselhando e guiando o seu parente doente." (Seeman, 1988).
Outro fator que influencia na inclusão dos esquizofrênicos na sociedade, são os aspectos culturais. Pesquisas feitas por Murphy (Shirakawa, I.; Chaves, A. C.; Mari, J. J; 2001; p. 223), hipotetizam as diferenças em relação ao risco (incidência) que está relacionado com o vinculo entre a cultura da sociedade e a visão particular do esquizofrênico, enquanto a evolução está relacionada aos aspectos de organização social e os obstáculos que uma cultura coloca nos modos como o individuo com esquizofrenia retornam aos seus papeis normais.
"Como a cultura não é algo estático, nem uma mera variável, o que precisa ser caracterizado é o tipo de experiência que a cultura fornece para aqueles indivíduos mais propensos em adquirir esquizofrenia” (Shirakawa, I.; Chaves, A. C.; Mari, J. J.; 2001, p. 222).
A hipótese de que os sintomas da esquizofrenia podem ser expressos diferentemente em cada cultura, vem sendo estudada por psiquiatras transculturais. Esta hipótese levanta a questão do relativismo cultural, que é representado através das seguintes idéias: mesmo que o quadro clínico aparente ser ligeiramente diverso a forma da esquizofrenia é universal, desde que se leve em consideração linguagem e cultura; aceitam a possibilidade de que a cultura apresenta uma influência importante na programação do cérebro; a esquizofrenia é exclusivamente concebida enquanto produto de atributos sociais, já que a cultura é caracterizada pela forma de sentir, pensar e agir. Assim através da cultura tentam explicar a razão dos sintomas dos esquizofrênicos.
Os pacientes psiquiátricos, hospitalizados por longos períodos, têm estratégias de sobrevivência na comunidade, mas algumas destas demonstram uma "auto - exclusão", como exemplo, a tendência ao isolamento social, indiferença ao trabalho, rede social limitada, etc. Apesar de a idéia parecer uma auto - exclusão, ela na verdade pode ser vista como uma estratégia bastante sensata a partir do instante em que tais pessoas permanecem vinculadas ao grupo de ex psiquiátricos na busca de identificar-se com os demais em relação aos valores, recursos e experiências em comum. Através destas tentativas de inclusão, quando o enfermo demonstra algum sintoma de recaída, em relação a suas estratégias, um dos fatores que podem vir a ser apresentados pelo paciente é alguma deficiência no trabalho, onde as pessoas de seu convívio logo o afastam. Como os primeiros sintomas aparecem entre a adolescência e o inicio da fase adulta, cada vez mais cedo, essas pessoas estão fora do mercado de trabalho. A inserção do paciente esquizofrênico no mercado de trabalho é um dever de toda a sociedade, pois eles podem ser produtivos.
A psicologia e a medicina há muitos anos tentam explicar e entender a esquizofrenia, na tentativa de responder à sociedade suas dúvidas. Segundo alguns pensadores da área da psicologia, o problema da doença mental parece estar no olhar, na maneira de encarar a realidade: visão de si mesmo, do outro, da sociedade e das coisas ao seu redor. Este olhar do esquizofrênico possui como principal aspecto a percepção da realidade alterada. Em outras palavras, a realidade seria diferente para o esquizofrênico. Isto envolve enxergar em sua vida coisas ora assustadoras, ora prazerosas, mas que aos olhos dos demais não existem. E também envolve não conseguir perceber o que todas as demais pessoas enxergam, do mesmo modo que elas compreendem os fatos como certo ou errado, justo ou injusto, bom ou ruim e assim por diante.
Desta maneira a pessoa que sofre de esquizofrenia sente-se excluída também por não conseguir compartilhar da mesma visão da sociedade, e, por outro lado ao sentir-se mal compreendida em sua visão particular. Viver em um mundo exclusivo onde ninguém mais enxerga o que se pode "ver" em seus delírios é em si propiciador de sofrimento. Pois o ser humano precisa se sentir parte de um grupo, compreendido, amado e aceito. Também precisa se sentir semelhante aos outros em algum aspecto para adquirir uma identidade social, considerando que o ambiente social deve ser bem estruturado.
Apesar de todas as características da doença, o tratamento traz bons resultados. Por isso, o esquizofrênico pode seguir uma vida semelhante a qualquer outro individuo, como: estudar, trabalhar, namorar, casar, ter uma vida em sociedade. A adesão ao tratamento não é uma tarefa fácil, pois inclui, além de medicações de alto custo, comparecimento às sessões de psicoterapia e cumprimento de uma agenda de tarefas propostas, que deverão ser mantidas ao longo de sua vida. Pacientes que não aderem ao tratamento são mais vulneráveis aos riscos que a doença oferece, onde esta vulnerabilidade poderá ocasionar a morte, e a sua principal causa é o suicídio, sendo mais frequentes em homens, por se sentirem mais sozinhos e sem esperanças.
O atual grande desafio dos profissionais da saúde é a conscientização da sociedade de que diferentes olhares podem também ser somados de modo muito rico. E cada profissional possui um papel importante nesta proposta de inclusão social da doença mental. Aos demais cidadãos, fica a tarefa de entender que o sofrimento psicológico é algo que existe em todos nós e se manifesta de diferentes maneiras e intensidades. Isto nos permite compreender que a pessoa com esquizofrenia precisará de ajuda e cuidado, apoio e tratamento adequado. Excluí-la da sociedade é destruir seus últimos recursos de sobrevivência emocional. Aceitá-la, respeitá-la e compreendê-la como um ser em sofrimento constante, que deverá ser tratado pelo profissional da saúde, talvez seja o primeiro dos muitos passos para um caminho mais acolhedor e terapêutico. O olhar esquizofrênico da vida é diferente, mas pode sim enriquecer olhares já cansados da nossa civilização, ao se depararem com uma realidade carente de compreensão, afeto e de solidariedade, como se este fosse um caminho para não ser louco e sim civilizado.

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