1.
SAÚDE MENTAL, uma sábia reflexão de Rubem AlvesA.s e outros textos
·
Rubem mai 23, 2015
Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde
mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista,
deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei.
Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me
explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das
pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante,
pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando
Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maikóvski. E logo me
assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh se
matou. Wittgenstein se alegrou ao saber que iria morrer em breve: não suportava
mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão
crônica. Maiakóvski suicidou.
Essas eram pessoas lúcidas e profundas que
continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido
completamente esquecidos.
Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental,
essa condição em que as ideias se comportam bem, sempre iguais, previsíveis,
sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus
lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao
trabalho, ou que faça algo inesperado, nem é preciso dar uma volta ao mundo num
barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja
o filme!), ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, que tenha a
coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa…
Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas
demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idiotas
de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde
mental. É claro que nenhuma mamãe consciente quererá que o seu filho seja como
Van Gogh ou Maiakóvski. O desejável é que seja executivo de grande empresa, na
pior das hipóteses funcionário do Banco do Brasil ou da CPFL. Preferível ser
elefante ou tartaruga a ser borboleta ou condor. Claro que nenhum dos nomes que
citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse
pedir emprego. Mas nunca ouvi falar de político que tivesse stress ou
depressão, com exceção do Suplicy. Andam sempre fortes e certos de si mesmos,
em passeatas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer
pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.
Nós somos muito parecidos com computadores. O
funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de
duas partes. Uma delas se chama hardware, literalmente coisa dura e a outra se
denomina software, coisa mole. A hardware é constituída por todas as coisas
sólidas com que o aparelho é feito. A software é constituída por entidades
espirituais – símbolos, que formam os programas e são gravados nos disquetes.
Nós também temos um hardware e um software. O
hardware são os nervos, o cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o
sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam
gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na
memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo espirituais, sendo
que o programa mais importante é linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no
hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica
louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções
químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no
software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um
programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente
símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se
fazer uso de símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano
nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e
eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até
mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto, que esse computador que é
o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu
hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é
isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas
eróticos do Drummond e o corpo fica excitado.
Imagine um aparelho de som. Imagine que o
toca-discos e acessórios, o software, tenha a capacidade de ouvir a música que
ele toca, e de se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o
hardware não a comporta, e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu
com aquelas pessoas que citei, no princípio: a música que saía do seu software
era tão bonita que o seu hardware não suportou.
A beleza pode fazer mal à saúde mental. Sábias,
portanto, são as empresas estatais, que têm retratos dos governadores e
presidentes espalhados por todos os lados: eles estão lá para exorcizar a
beleza e para produzir o suave estado de insensibilidade necessário ao bom
trabalho.
Dadas essas reflexões científicas sobre a saúde
mental, vai aqui uma receita que, se seguida à risca, garantirá que ninguém
será afetado pelas perturbações que afetaram os senhores que citei no início,
evitando assim o triste fim que tiveram.
Opte por um software modesto. Evite as coisas
belas e comoventes. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente
perigosos. Já o roque pode ser tomado à vontade, sem contra indicações. Quanto
às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura
especializada em impedir o pensamento. Se há livros do Dr. Lair Ribeiro, por
que arriscar-se a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos
diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e
caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas
iguais. A saúde mental é um estômago que entra em convulsão sempre que lhe é
servido um prato diferente. Por isso que as pessoas de boa saúde mental têm
sempre as mesmas ideias. Essa cotidiana ingestão do banal é condição necessária
para a produção da dormência da inteligência ligada à saúde mental. E, aos
domingos, não se esqueca do Sílvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo esta receita você terá uma vida
tranquila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não
perceberá o quão banal ela é. E, ao invés de ter o fim que tiveram os senhores
que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos.
Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já não mais saberá
como eles eram.
(Provavelmente escrito em 1994)
Conheça o Instituto Rubem Alves e participe de seus
projetos.
Aniversário de 22 anos (Junho 2014) da AGAFAPE.
Foi oferecido uma rosa com miolo de bombom para cada participante.As presidentes, a ex-presidente Sra. Marília Cruz e a atual Sra. Sonia Nunes.
A festa estava decorada com bandeirinhas na cor Brasileira, que eram os preparativos para a COPA 2014.
Comissão Tripartite do SUS aprova Política Nacional de Doenças Raras
O texto que esteve em consulta pública, durante o ano de 2013, foi aprovado em dezembro e agora aguarda publicação em Diário Oficial.
http://maragabrilli.com.br/terceirosetor/noticias/650-comissao-tripartite-do-sus-aprova-politica-nacional-de-doencas-rara
Passou na TV Bandeirantes, no programa "A LIGA", com Rafinha Bastos....
A Liga mostra a realidade dos transtornos mentais....
Clique no endereço abaixo para ver a reportagem completa...
A Liga, Rafinha se emociona com pai de Esquizofrênico
Clique no endereço abaixo para ver a reportagem completa...
A Liga, Rafinha vai ao jogo do Palmeiras com Wagner....
Clique no endereço abaixo para ver a reportagem completa...
Aniversário de 21 anos (Junho 2013) da AGAFAPE.
Nossa festa foi maravilhosa, salgadinhos deliciosos que cada participante doou para a festa, muito refrigerante e dois bolos maravilhosos feito por nossa amiga e voluntária hoje e presidente da AGAFAPE na Gestão 1993-1994 Marin Ruth.
Foi feito dois bolos. Nesta foto, ele parece pequeno mas não era. |
Olha só que mesa bonita! |
Nossa atual presidente, secretária, voluntárias e co-fundadoras. |
Veja a animação da festa e da nossa Assistente Social. |
Olá!
Se você apareceu em alguma foto e, não gostaria que fizesse parte de nosso blog, por favor nos comunique.
Coral do HCPA nos 20 anos da AGAFAPE.
Coral do HCPA e o Maestro
Profa. Elaine e usuários da AGAFAPE