Pesquisa conjunta entre a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e Unidade de Pesquisa em Neuroquímica da Universidade de Alberta, Canadá, obtém novo tratamento para a esquizofrenia. Resultados mostraram maior eficácia no controle de todos os seus sintomas, além de ação mais rápida e sem efeitos colaterais. Os achados da pesquisa, coordenada pelos professores Jaime Hallak, da FMRP, e Serdar Dursun, de Alberta, acabam de ser publicados na Revista Archives of General Psychiatry/JAMA Psychiatry.
Os medicamentos disponíveis até hoje, segundo os pesquisadores, traziam melhoras somente parciais e agiam, principalmente, nos delírios e alucinações dos pacientes, mas possuíam ação muito discreta, ou mesmo não agiam, sobre outros sintomas, como os negativos e cognitivos. Assim, começaram a testar um tratamento com uma substância já conhecida, o nitroprussiato de sódio, que é utilizado na hipertensão arterial sistêmica grave.
Depois de amplamente testada em animais, estudaram durante três anos sua ação em humanos, os quais apresentavam a fase aguda da doença, com indicação de internação e, no máximo, cinco anos de diagnóstico. Esses pacientes foram internados no Hospital das Clínicas da FMRP e, após uma semana tomando os medicamentos prescritos por seus médicos, aqueles que ainda apresentavam os sintomas da doença foram divididos em dois grupos. O primeiro recebeu placebo e o outro, a medicação à base de nitroprussiato de sódio.
“Os resultados foram impactantes naqueles que receberam o nitroprussiato de sódio”, revela Hallak. Ele conta que houve uma diminuição de todos os sintomas agudos da esquizofrenia já nas primeiras horas de infusão. “Esses pacientes foram avaliados durante as 4 horas de infusão, depois de 12 e 24 horas, depois de 7 e de 28 dias, e continuaram com a melhora. E, o mais importante, não apresentaram efeitos colaterais. A pressão inclusive se manteve normal”, comemora.
Reversão dos sintomas da esquizofrenia
Nitroprussiato de sódio é um tipo de sal que doa o óxido nítrico ao sistema nitrérgico, ou seja, é um vaso dilatador que age na periferia do sistema vascular. Mas no caso da esquizofrenia, o interesse dos pesquisadores foi na ação central (no sistema nervoso central).
Várias discussões sobre a fisiopatologia da esquizofrenia, as quais já haviam concluído pela existência de uma disfunção do sistema glutamatérgico nos portadores da doença, serviram de ponto de partida para as pesquisas. “Esse sistema glutamatérgico age muitas vezes utilizando o óxido nítrico como intermediário, ou como um segundo ou terceiro mensageiro. Então, se tiver uma diminuição de alguma função desse sistema neurotransmissor glutamatérgico, diminuiria a produção de óxido nítrico. Assim, após analisar os estudos que trazem essa evidência, hipotetizamos que se fosse reposto o óxido nítrico, haveria a reversão dos sintomas de esquizofrenia. E foi justamente isso que aconteceu”, afirma o professor Hallak.
Várias discussões sobre a fisiopatologia da esquizofrenia, as quais já haviam concluído pela existência de uma disfunção do sistema glutamatérgico nos portadores da doença, serviram de ponto de partida para as pesquisas. “Esse sistema glutamatérgico age muitas vezes utilizando o óxido nítrico como intermediário, ou como um segundo ou terceiro mensageiro. Então, se tiver uma diminuição de alguma função desse sistema neurotransmissor glutamatérgico, diminuiria a produção de óxido nítrico. Assim, após analisar os estudos que trazem essa evidência, hipotetizamos que se fosse reposto o óxido nítrico, haveria a reversão dos sintomas de esquizofrenia. E foi justamente isso que aconteceu”, afirma o professor Hallak.
Potencial cura para a esquizofrenia
Cerca de 1% da população mundial sofre de esquizofrenia, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença é crônica, não tem cura e atinge a pessoa no momento em que todos esperam seu desabrochar, o final da adolescência.
Segundo o professor Hallak, nos últimos 60 anos houve um grande avanço na diminuição dos efeitos colaterais dos medicamentos que tratam a esquizofrenia, mas a eficácia ainda é pequena. Esses medicamentos, diz, agem principalmente no sistema dopaminérgico. “Esses medicamentos são muito bons para os sintomas chamados positivos, como delírios e alucinações, por exemplo, o paciente tem uma melhora parcial e os resultados do tratamento demoram para aparecer. Eles não são bons nos sintomas cognitivos, os negativos e afetivos da esquizofrenia.
Para o estudo que foi publicado, os pesquisadores avaliaram os pacientes que receberam o nitroprussiato de sódio até o 28º dia de tratamento. Entretanto, novos estudos conduzidos pelo grupo trazem evidências de que a melhora perdura ao menos até três meses. “Estamos partindo agora para o estudo de doses repetidas”, revela o professor. Os especialistas garantem que, além da própria eficácia do tratamento, esses resultados abrem caminho para pesquisas nessa mesma linha para tratamentos curativos da esquizofrenia.
“Esses resultados são a prova de que existem tratamentos mais efetivos e que é possível pensar em cura para a esquizofrenia. Alguns grupos estão pesquisando formas de identificar cada vez mais precocemente marcadores que prevejam o aparecimento da doença. Assim, essas pessoas podem começar um tratamento também precoce com drogas, por exemplo, desta linha. Com isso a chance de se impedir o aparecimento e, consequentemente, a progressão da doença, é muito grande. Estamos abrindo caminho não só para um medicamento, mas também para pesquisa na fisiopatologia, nas causas da esquizofrenia”.
Participaram da pesquisa publicada na JAMA Psychiatry, Melhoria rápida dos sintomas da esquizofrenia agudizada após nitroprussiato de sódio por via intravenosa: um estudo randomizado duplo-cego, placebo-controlado, além dos professores Hallak e Dursun, os professores Glen Baker, João Paulo Maia de Oliveira, José Alexandre Crippa, Antonio Waldo Zuardi, João Abrão, Paulo Roberto Évora e Paulo Abreu.
Sem comentários:
Enviar um comentário