segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Memórias de uma mente esquizofrênica


Por Alessandra Machado Perna
Acadêmica de jornalismo de CEULP/ULBRA. Usuária do CAPS de Palmas – TO.

Até os 14 anos eu era uma garota normal, nada tinha de suspeito. Apenas um comportamento de isolamento e gostava de ficar sozinha, por horas, brincando com minhas bonecas. Gostava muito de estudar, era aplicada e excelente aluna, costumava virar a noite estudando.
Quando fui embora de Miracema para Goiânia, deixei meus pais e passei morar com minhas irmãs que já trabalhavam e estudavam lá. Como toda pessoa jovem, fazia muitos planos: trabalhar, estudar, formar em medicina, casar e me realizar em todos os aspectos. Infelizmente, a doença a que fui acometida me impediu dessas realizações. Ainda em Goiânia já havia iniciado minha vida acadêmica na UCG.
Entretanto, as coisas mudaram para mim. Lembro-me que fui a uma benzedeira, em Goiânia, e ao voltar para casa já me sentia um pouco estranha. Sentia uma sensação diferente, como se ouvisse uma voz ou uma força que me proibia de lavar os cabelos. Ao chegar em casa, entrei no meu quarto e pude perceber a presença de um  espírito. Esse espírito bateu forte no meu rosto, me envolveu e me acomodou em uma cama para dormir. Ao acordar, tudo estava confuso... Passei semanas sentindo dores no corpo. Falava bastante, me sentia doente. A isso tudo eu atribuía à possessão de um espírito. Passaram-se os dias, pude levantar da cama e estava melhor, mas sabia que a partir de agora eu tinha que conviver com esse espírito que me possuiu. Seria impossível, aqui neste texto, descrever tudo o que me acontecia durante o período em que a doença ainda não havia sido diagnosticada.
Naquela época, dentre tantos tratamentos alternativos, pois até então não se sabia qual era o meu problema, fui levada em Igrejas católicas e evangélicas onde recebia orações de padres e de pastores, respectivamente. Falava-se até em exorcismo. Também fui levada ao Centro Espírita PAI – Posto de Atendimento Espiritual, em Goiânia. Nesse mesmo tempo, uma senhora que havia passado por situação semelhante com o seu filho, aconselhou minha família a procurar um médico psiquiatra. O meu primeiro médico psiquiatra diagnosticou a doença como sendo Esquizofrenia.  Até hoje ele atende em Goiânia. Os primeiros remédios que ele me receitou foram Rivotril e Haldol. Ele atende grupos de pacientes em conjunto com os familiares. Os remédios, no início do tratamento, mesmo com seus efeitos colaterais catastróficos, surtiram efeitos. Até pensei que estava curada, fui morar em Maceió com o meu irmão e sua família, estudava e tudo parecia normal, descuidei da medicação e aí... um novo surto! Voltei para Goiânia.
Com o tempo o meu comportamento foi se modificando, alternando o meu humor, dificultando o meu raciocínio, retardando a minha capacidade de memorização, a minha coordenação motora - consigo digitar com muita de dificuldade – com o uso continuado dos REMÉDIOS CONTROLADOS, fui percebendo, ao longo dos anos, os benefícios e as ruínas dessas drogas. As drogas que já tomei e ainda as tomo até hoje - já experimentei quase de tudo disponível no mercado -  têm suas reações adversas. Vou citar algumas. Quem que não faz uso desses medicamentos, não tem ideia do estrago que eles causam no organismo...
Buraco negro!
AMPLICTIL, NEULEPTIL, MELLERIL, ORAP, STELAZINE, ZYPREXA, RISPERDAL, SEROQUEL, GEODON, INVEGA, PIPORTIL, EQUILID, HALDOL... Isso tudo e muito mais, é DROGA, mas não dá nem pra cheirar.  Se um dia eu criar algum bicho de estimação, vou chamá-lo de SEROQUEL ou STELAZINE.  Eu “devoro” as bulas e sei dizer quando o remédio é bom e faz bem, ou não. Os efeitos desses medicamentos, quase sempre angustiantes, me deixam parecer e/ou sentir que estou com algum problema sério de saúde, mas são os remédios que trazem essas consequências, efeitos contrários (falta de disposição, sonolência, ansiedade, obesidade por não conseguir controlar a alimentação, falta de concentração, nervosismo, irritabilidade, tiques nervosos, perda de memória recente e por aí vai...) Hoje sou dependente dos indutores do sono,  pois só  consigo dormir com o uso deles.  Quais benefícios os TARJAS PRETAS trazem? Quase nenhum... Falarei sobre isso e também por onde já busquei tratamentos, em outra oportunidade.
Quando engravidei (aos 28 anos) - na época tomava medicamentos de um médico de São Paulo que o meu irmão havia me levado para uma consulta - estava muito feliz e a minha filha era tudo, brincávamos muito. Eu não me entendia muito bem com a minha irmã, que passou a minha filha para o seu poder, de uma maneira que todos a apoiavam e ficavam do seu lado. Eu, sendo a parte mais fraca, não tive condição e nem apoio para me defender. Por várias vezes fui afastada do convívio da criança, para ser internada. Sofria muito a ausência de minha filha. Mas mesmo assim tentava levar uma vida “normal”, sendo que os maiores obstáculos foram internações contra a minha vontade. As clínicas merecem outro capítulo, não gosto de ouvir falar que eu preciso ser internada, sofri muito e saia semimorta das clínicas. Quando voltava das internações sentia que muitas coisas tinham se perdido, inclusive a própria filha. Sinto falta dela e essa que sobreviveu não me considera como mãe, me maltrata e tudo isso manipulado pela minha irmã.
Acredito em todas as crenças. Fui uma criança muito sofrida e tive alguns maus-tratos. O diagnóstico de Esquizofrenia veio resgatar o trauma de infância por eu ter presenciado o crime de uma mulher, que é minha mãe biológica. O que posso resgatar da infância é só isso, pois me senti muito ruim quando vi a fotografia dela. Ela já tentou se comunicar comigo, fui obrigada a rasgar a prova que eu tinha - uma foto em preto e branco - pois estava me fazendo mal, mas cheguei a mostrá-la a umas três pessoas.
Frequento o CAPS - Centro de Atenção Psicossocial - buscando uma maneira melhor de tratar o meu problema. Entretanto, diante de tantos “saudáveis” cometendo absurdos, me considero uma pessoa normal, a não ser quando me vejo influenciada por uma espécie negativa que leva ao apelo sexual, de certa forma inconveniente, invisível. Existem espíritos e todas as espécies de entidades, elas podem influenciar nas vidas das pessoas para ajudar, mas existem também espíritos invejosos e pessoas que só desejam o mal.

Sem comentários:

Enviar um comentário