terça-feira, 3 de novembro de 2015

Medicamentos para a esquizofrenia


Os medicamentos e outros tratamentos para a esquizofrenia, quando usados regularmente e de acordo com a prescrição, podem ajudar a reduzir e a controlar os sintomas incapacitantes da doença. No entanto, algumas pessoas não conseguem obter ajuda considerável a partir dos tratamentos disponíveis pois interrompem prematuramente o tratamento devido aos efeitos secundários desagradáveis ou por outras razões. Mesmo quando o tratamento é eficaz, as consequências persistentes da doença (tais como perda de oportunidades, estigmas, sintomas residuais e efeitos secundários da medicação) podem ser muito difíceis e limitantes para os doentes, impedindo-os de terem uma vida normal.

A história dos medicamentos para a esquizofrenia

Os primeiros medicamentos eficazes para o tratamento da esquizofrenia foram desenvolvidos no meio da década de 50. Existe uma série de medicamentos antipsicóticos diferentes, ditos "convencionais". Estes medicamentos parecem atuar sobretudo através da redução dos efeitos do neurotransmissor dopamina no cérebro. A sua principal eficácia consiste no tratamento dos sintomas positivos, o que permite a muitos doentes permanecerem fora do hospital e de desempenharem bem as suas funções na comunidade. No entanto, não parecem ser muito eficazes nos sintomas negativos da esquizofrenia nem nos sintomas relacionados com o humor (sintomas afetivos). Além disso, alguns doentes podem responder de forma deficiente ou mesmo não responder a estes medicamentos. Os neurolépticos convencionais apresentam também uma série de efeitos adversos desagradáveis e os doentes podem ter a necessidade de tomar outros medicamentos para os controlarem. Os efeitos secundários podem contribuir para que os doentes não tomem os seus medicamentos (ausência de adesão), o que pode levar ao reaparecimento dos sintomas da esquizofrenia (recidivas).
Na última década, surgiram diversos medicamentos eficazes para a esquizofrenia com frequência e gravidade de efeitos secundários do que com os medicamentos mais antigos.
Novos medicamentos para a esquizofrenia

A grande maioria das pessoas com esquizofrenia mostram melhoria substancial quando tratadas com medicamentos antipsicóticos. No entanto, alguns doentes não obtêm ajuda com os medicamentos disponíveis e alguns não parecem necessitar deles. É difícil prever quais os doentes que se enquadram em cada um destes dois grupos e distingui-los da grande maioria dos doentes que beneficiam do tratamento com os medicamentos antipsicóticos.
Os novos antipsicóticos parecem bloquear quer os efeitos da serotonina quer da dopamina e como consequência parecem ter efeitos numa gama mais alargada de sintomas. São eficazes no tratamento da psicose, incluindo alucinações e delírios, e podem ser úteis no tratamento dos sintomas negativos da doença, tais como falta de motivação ou expressão emocional embotada.
Os doentes e as suas famílias ficam muitas vezes preocupados com os medicamentos antipsicóticos utilizados para tratar a esquizofrenia. Além das preocupações relativas aos efeitos secundários, preocupam-se com o facto destes medicamentos poderem levar a habituação. No entanto, os fármacos antipsicóticos não produzem um humor "elevado" (euforia) ou dependência (vício) nas pessoas que os tomam. Uma outra ideia errada relativa aos medicamentos antipsicóticos consiste em considerar que estes atuam como uma espécie de controladores da mente ou um "colete de forças químico". Se usados nas doses apropriadas, os fármacos antipsicóticos não põem as pessoas "fora de combate" nem lhes retiram a sua livre decisão. Embora estes fármacos possam ser sedativos e este efeito possa ser útil em circunstâncias especiais (tal como no início do tratamento, especialmente se o indivíduo estiver muito agitado), a utilidade destes fármacos não se deve à sedação mas sim à sua capacidade de reduzir as alucinações, a agitação, confusão e delírios associados a um episódio psicótico. Desta forma, os medicamentos antipsicóticos acabam por ajudar os indivíduos com esquizofrenia a lidar duma forma mais racional com o mundo.
Os antipsicóticos reduzem o risco de episódios psicóticos futuros em doentes que recuperaram dum episódio agudo. Mesmo com o tratamento continuado, muitas pessoas que recuperaram irão sofrer recaídas. No entanto, verificam-se, de longe, muito mais recaídas quando o tratamento é interrompido. Na maioria dos casos, não será correto dizer que o tratamento continuado "evita" o aparecimento de recidivas, mas sem dúvida que reduz a sua intensidade e frequência. O tratamento dos sintomas psicóticos graves exige geralmente doses mais elevadas do que as utilizadas para o tratamento de manutenção. Se os sintomas reaparecem com uma dose mais baixa, um aumento temporário pode prevenir o aparecimento duma recaída completa.
Uma vez que as recidivas são mais prováveis quando os medicamentos antipsicóticos são interrompidos ou tomados de forma irregular, é muito importante que as pessoas com esquizofrenia colaborem com os seus médicos e famílias de forma a manterem-se fiéis ao seu esquema de tratamento. Isto envolve tomar o medicamento apropriado na dose correta e nas alturas certas do dia, ir às consultas médicas e seguir de forma escrupulosa todos os outros procedimentos relacionados com o tratamento. Embora isto seja muitas vezes difícil para as pessoas com esquizofrenia, tal fardo pode tornar-se mais leve com a ajuda de várias estratégias e consequentemente pode conseguir-se uma melhoria da qualidade de vida.
Efeitos secundários
Os antipsicóticos, tais como quase todos os medicamentos, têm efeitos indesejáveis para além dos seus efeitos benéficos. Durante a fase inicial do tratamento, os doentes podem ser afetados por efeitos secundários tais como sonolência, agitação, espasmos musculares, tremor, secura de boca, ou visão turva. A maioria deles pode ser corrigida com a diminuição da dose ou podem ser controlados com outros medicamentos. A resposta ao tratamento com antipsicóticos e os efeitos secundários associados variam de doente para doente. Determinados doentes podem responder melhor a um fármaco que a outro.
Os efeitos dos antipsicóticos, a longo-prazo, podem colocar um problema consideravelmente mais grave. A discinesia tardia (DT) é uma situação que se caracteriza por movimentos involuntários, na maioria das vezes afetando mais frequentemente a boca, lábios e língua e algumas vezes o tronco ou outras partes do corpo tais como os braços e as pernas. Ocorre em cerca de 15 a 20% dos doentes que receberam os antipsicóticos mais antigos durante muitos anos, mas a discinesia tardia também pode surgir em doentes sob tratamento com estes fármacos durante períodos mais curtos de tempo. Na maioria dos casos, os sintomas da discinesia tardia são ligeiros e o doente pode nem ter consciência destes movimentos, mas em alguns casos podem ser muito incapacitantes e graves.
Os novos antipsicóticos parecem ter um risco muito menor de produzir DT que os outros fármacos mais antigos. No entanto, o risco não é nulo e podem também produzir outros efeitos secundários tais como aumento de peso. Além disso, se administrados em doses demasiado elevadas, os antipsicóticos mais recentes podem provocar problemas tais como retirada social e sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson, que afeta o controlo dos movimentos. Embora os medicamentos mais recentes sejam geralmente melhor tolerados que os convencionais, o perfil de efeitos adversos dos agentes atípicos varia e estas diferenças podem afetar a adesão do doente ao esquema de tratamento. Assim, podem surgir efeitos secundários tais como boca seca, visão turva, obstipação e confusão. Os neurolépticos atípicos também se associam com sedação, sonolência, estimulação do apetite e ganho de peso, juntamente com alterações da pressão arterial (PA), do ritmo cardíaco e vertigens.
No entanto, os novos antipsicóticos constituem um avanço muito importante no tratamento destes doentes, e a optimização do seu uso em doentes com esquizofrenia é um tema atualmente objecto de investigação aprofundada.
O impacto da esquizofrenia
A maioria das pessoas com esquizofrenia sofrem ao longo das suas vidas, perdendo desta forma oportunidades de carreira e de relacionamento. Como consequência da falta de compreensão pública existente relativamente à doença as pessoas com esquizofrenia, muitas vezes, sentem-se isoladas e estigmatizadas e podem ter relutância ou incapacidade em falar sobre a sua doença. Embora a disponibilidade de novos medicamentos com menos efeitos secundários tenha melhorado a vida de muita gente, mesmo atualmente, apenas numa pessoa em cada cinco das afetadas pode falar em "recuperação" da doença e uma, em cada dez pessoas com esquizofrenia, cometem suicídio.
De todas as doenças mentais, a esquizofrenia é provavelmente a que apresenta mais dificuldades para todos os envolvidos. Os doentes sofrem, sem qualquer dúvida, uma enorme perturbação das suas vidas. No entanto, as famílias e os amigos são também profundamente afetados, devido à angústia de verem os efeitos da doença no seu ente querido, e como resultado da sobrecarga necessária para a assistência ao doente. Enfrentar os sintomas da esquizofrenia pode ser especialmente difícil para os membros da família que se recordam de como a pessoa era ativa e dinâmica antes de ficar doente. Apesar de existirem inequívocas evidências do contrário, algumas pessoas ainda acreditam que o que causa a esquizofrenia são maus pais ou fraca força de vontade. Ora, tal não é de todo o caso. A esquizofrenia é uma doença complexa, que se pensa ser devida a um número de factores atuando em conjugação. Estes factores parecem incluir influências genéticas, traumatismos (lesões) do cérebro ocorrendo na altura do nascimento ou no período envolvente, juntamente com os efeitos do isolamento social e/ou stress. Outros parâmetros podem também ser importantes, mas nenhum fator pode ser incriminado isoladamente como causa da esquizofrenia. Em vez disso, pensa-se que cada um destes factores pode aumentar o risco de que uma pessoa venha a desenvolver sintomas.
Abuso de substâncias
O abuso de substâncias é uma preocupação comum das famílias de pessoas com esquizofrenia. Uma vez que algumas pessoas, que abusam de fármacos, apresentam sintomas semelhantes aos das que sofrem de esquizofrenia, as pessoas com esta doença podem ser olhadas erradamente como pessoas que tomaram "muitas drogas". As pessoas que têm esquizofrenia muitas vezes abusam de álcool e/ou drogas e podem ter reações particularmente negativas a certas drogas. O abuso de substâncias pode também reduzir a efetividade do tratamento para a esquizofrenia. Os estimulantes (ex. anfetaminas e cocaína) podem causar problemas graves em doentes com esquizofrenia, tal como também pode acontecer com outras drogas. Na verdade, algumas pessoas sofrem um agravamento dos sintomas da esquizofrenia quando tomam estas drogas. O abuso de substâncias também reduz a probabilidade de que os doentes seguirem o plano de tratamento recomendado pelos seus médicos.
A forma mais comum de dependência de substâncias em doentes com esquizofrenia é a dependência de nicotina devido ao hábito de fumar. A prevalência de tabagismo em doentes com esquizofrenia é cerca de três vezes superior à encontrada na população em geral. No entanto, a relação entre o tabaco e a esquizofrenia é complexa. Embora as pessoas com esquizofrenia possam fumar para "auto-medicar" os seus sintomas, o tabaco parece interferir com a resposta aos fármacos antipsicóticos, de forma que os doentes que fumam podem necessitar de doses mais elevadas de medicação antipsicótica.

Diagnóstico da esquizofrenia

A maioria das doenças psiquiátricas são muito difíceis de diagnosticar e a esquizofrenia não constitui excepção, uma vez que não existem testes que possam identificar alguém com esquizofrenia. O diagnóstico depende da exclusão de outras causas que possam originar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia (tais como abuso de drogas, epilepsia, tumores cerebrais e disfunção tiroideia). É importante excluir outras doenças, porque algumas vezes as pessoas têm sintomas mentais graves, ou mesmo psicoses, devido a situações médicas subjacentes que não são diagnosticadas. Por este motivo, uma história clínica deve ser colhida e um exame físico e testes laboratoriais devem ser efetuados para excluir outras causas possíveis, antes de concluir que alguém sofre de esquizofrenia. Além disso, como as drogas que se consomem habitualmente podem causar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia, devem ser pesquisadas estas substâncias em amostras de sangue ou de urina dos doentes em causa.
Após ter excluído outras causas, o médico deve então efetuar um diagnóstico, baseando-se apenas nos sintomas observados no doente e descritos pelo mesmo e pela família. Isto pode provocar problemas e atrasos no diagnóstico porque muitos sintomas podem só ser evidentes quando a doença já está avançada. Mesmo nessa altura, para que se possa estabelecer um diagnóstico formal, os sintomas devem estar presentes durante pelo menos seis meses.

*A informação médica fornecida neste artigo tem apenas carácter formativo e educativo, não pretendendo nunca substituir as opiniões, conselhos e recomendações de qualquer profissional da saúde. As decisões relativas à saúde do doente devem ser tomadas pelo profissional de saúde, tendo em conta as características únicas de cada doente. Não tome medicamentos sem o conhecimento do seu médico pois isso pode prejudicar a sua saúde.

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