A
esquizofrenia é comumente taxada como "coisa de louco", e muitas
vezes as pessoas sequer sabem o nome desse transtorno. Por isso, é muito
importante ressaltar seus sintomas, características, dados e sua definição
propriamente dita, para que, assim, se perceba a diferença entre este
distúrbio, que é um tipo de psicose, da psicopatia, a qual, diferente dos
transtornos psicóticos, não é tratada como uma patologia.
Transtorno
jovem
Não se
pode discorrer sobre um transtorno mensal sem antes conhecer o básico a seu
respeito. A esquizofrenia é uma doença que afeta alguns campos da mente, como o
juízo crítico, as emoções e a percepção da realidade. Seus sintomas são divididos
em positivos, alucinações e delírios, e negativos, em que a dificuldade de se
expressar e o isolamento social são mais comuns.
Diferentemente
de outras psicoses, a esquizofrenia pode aparecer mais cedo. Segundo o
psiquiatra Rodrigo Pessanha, há um pico de incidência "entre homens até 23
anos de idade, enquanto nas mulheres, o mesmo ocorre por volta de 25 anos. No
entanto, pode haver casos na infância,
sendo estes mais graves e de pior prognóstico, uma vez que a própria noção de
identidade pessoal é atingida em seus primórdios, levando a um prejuízo mais
importante do funcionamento global". Se forem realizados diagnósticos
semelhantes em pessoas mais velhas, devem ser consideradas outras hipóteses de
distúrbios.
A
esquizofrenia, oficialmente, tem diferentes avaliações. Na Classificação
Internacional de Doenças (CID-10), último manual da Organização Mundial da
Saúde (OMS), o distúrbio é dividido em paranoide (predominância dos sintomas
positivos) e hebefrênica (sintomas negativos). Porém, na mais recente versão do
Manual Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5), esta
subdivisão foi retida.
Sentidos em delírio
Os
sintomas mais conhecidos da esquizofrenia são as alucinações, que segundo a
psiquiatra Sofia Bauer, "podem ser visuais, auditivas ou de sensações -
ver, ouvir e sentir coisas, de certo modo, bem estranhas. Como escutar vozes de
mortos, enxergar pessoas que os outros não veem, notar cheiros
esquisitos". Normalmente, estes delírios são associados à audição, no
entanto, mesmo que mais raros, também podem estar ligados aos outros sentidos -
visão, olfato, paladar e tato. E, por vezes, misturando-os, criam-se
experiências sinestésicas, como "enxergar sons". "As alucinações
sinestésicas, ainda que relativamente incomuns, podem ocorrer especialmente
incomuns, podem ocorrer especialmente em pacientes com marcante desorganização
do pensamento e confusão mental", completa Pessanha.
Mudanças no cérebro
Em geral,
os esquizofrênicos têm toda massa encefálica afetada, provocando o mau
funcionamento dos neurônios, diminuindo sua atividade e, conseguintemente, da
comunidade cerebral.
No
cérebro, as alterações causadas pela esquizofrenia não possuem áreas bem
definidas e, de acordo com a psiquiatra Helena Mura, "fala-se, na verdade,
de alterações entre conexões de algumas partes do cérebro, cada uma com
diferentes funções". O aumento de dopamina em ligações das regiões
centrais do cérebro ao córtex pré-frontal pode provocar alucinações. E, por
outro lado, a redução desse neurotransmissor em conexões das áreas ligadas ao
prazer e às emoções é responsável pela dificuldade de expressão de sentimentos
e da falta da satisfação.
Além da
dopamina, “o glutamato tem sua função diminuída, e há participação da
serotonina e da acetilcolina, neurotransmissores que interferem na liberação
dos demais”, completa Mura.
Os
tratamentos empregados em casos de esquizofrenia também estão relacionados a
estas substancias. “A maioria dos medicamentos utilizados nas intervenções,
assim como em outras doenças psiquiátricas caracterizadas por sintomas
psicóticos, bloqueia receptores específicos da dopamina, em uma tentativa de reequilibrar
os circuitos hiperativos”, conclui Rodrigo Pessanha.
Personalidade
múltipla ou esquizofrenia?
Casos
mais graves de indivíduos diagnosticados com o transtorno podem criar um
estigma social negativo e desnecessário. Contudo, é inegável a existência de
criminosos que desenvolveram tais comportamentos por causa da esquizofrenia. Os
exemplos mais famosos são frequentemente retratados em produções audiovisuais,
seja em documentários, filmes ou séries. A notícia mais recente de um caso que
vai parar nas telas de cinema é o do norte americano Billy Milligan, condenado
por assaltos à mão armada e estupros. Porém, Billy foi absolvido por insanidade
mental devido a alegações de seus advogados de que outras duas personalidades
de seu cliente teriam cometido os crimes sem ele saber. Com toque de Hollywood,
o filme The Crowded Room, ainda em,
fase de pré-produção, se baseará na história de Milligan. Na adaptação, ele
será interpretado por Leonardo DiCaprio, que mostrará 24 personalidades
diferentes.
Porém, a
atribuição dessa variedade aos sintomas da esquizofrenia deve ser cautelosa. Segundo
Pessanha, “a esquizofrenia é frequentemente confundida com o transtorno de
personalidade múltipla, uma condição raríssima e contestada por muitos
especialistas que sugerem a invenção sobre sua real existência”. A confusão é,
até certo ponto, compreensível se examinar a palavra ‘esquizofrenia’, que “é de
origem latina, significando literalmente ‘divisão da mente’. No entanto, são
dois tipos de condições psiquiátricas completamente diferentes”, explica
Pessanha.
Legalmente,
segundo a Artigo 26 do Código Penal Brasileiro, “é isento de pena o agente que,
por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.
Fonte: Revista Segredos da Mente
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