segunda-feira, 28 de março de 2016

NÃO É LOUCURA - Os tratamentos, casos, dívidas e preconceitos que cercam a esquizofrenia



A esquizofrenia é comumente taxada como "coisa de louco", e muitas vezes as pessoas sequer sabem o nome desse transtorno. Por isso, é muito importante ressaltar seus sintomas, características, dados e sua definição propriamente dita, para que, assim, se perceba a diferença entre este distúrbio, que é um tipo de psicose, da psicopatia, a qual, diferente dos transtornos psicóticos, não é tratada como uma patologia. 

Transtorno jovem
Não se pode discorrer sobre um transtorno mensal sem antes conhecer o básico a seu respeito. A esquizofrenia é uma doença que afeta alguns campos da mente, como o juízo crítico, as emoções e a percepção da realidade. Seus sintomas são divididos em positivos, alucinações e delírios, e negativos, em que a dificuldade de se expressar e o isolamento social são mais comuns. 
Diferentemente de outras psicoses, a esquizofrenia pode aparecer mais cedo. Segundo o psiquiatra Rodrigo Pessanha, há um pico de incidência "entre homens até 23 anos de idade, enquanto nas mulheres, o mesmo ocorre por volta de 25 anos. No entanto, pode haver casos na infância, sendo estes mais graves e de pior prognóstico, uma vez que a própria noção de identidade pessoal é atingida em seus primórdios, levando a um prejuízo mais importante do funcionamento global". Se forem realizados diagnósticos semelhantes em pessoas mais velhas, devem ser consideradas outras hipóteses de distúrbios.
A esquizofrenia, oficialmente, tem diferentes avaliações. Na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), último manual da Organização Mundial da Saúde (OMS), o distúrbio é dividido em paranoide (predominância dos sintomas positivos) e hebefrênica (sintomas negativos). Porém, na mais recente versão do Manual Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5), esta subdivisão foi retida.

Sentidos em delírio
Os sintomas mais conhecidos da esquizofrenia são as alucinações, que segundo a psiquiatra Sofia Bauer, "podem ser visuais, auditivas ou de sensações - ver, ouvir e sentir coisas, de certo modo, bem estranhas. Como escutar vozes de mortos, enxergar pessoas que os outros não veem, notar cheiros esquisitos". Normalmente, estes delírios são associados à audição, no entanto, mesmo que mais raros, também podem estar ligados aos outros sentidos - visão, olfato, paladar e tato. E, por vezes, misturando-os, criam-se experiências sinestésicas, como "enxergar sons". "As alucinações sinestésicas, ainda que relativamente incomuns, podem ocorrer especialmente incomuns, podem ocorrer especialmente em pacientes com marcante desorganização do pensamento e confusão mental", completa Pessanha.

Mudanças no cérebro
Em geral, os esquizofrênicos têm toda massa encefálica afetada, provocando o mau funcionamento dos neurônios, diminuindo sua atividade e, conseguintemente, da comunidade cerebral.
No cérebro, as alterações causadas pela esquizofrenia não possuem áreas bem definidas e, de acordo com a psiquiatra Helena Mura, "fala-se, na verdade, de alterações entre conexões de algumas partes do cérebro, cada uma com diferentes funções". O aumento de dopamina em ligações das regiões centrais do cérebro ao córtex pré-frontal pode provocar alucinações. E, por outro lado, a redução desse neurotransmissor em conexões das áreas ligadas ao prazer e às emoções é responsável pela dificuldade de expressão de sentimentos e da falta da satisfação.
Além da dopamina, “o glutamato tem sua função diminuída, e há participação da serotonina e da acetilcolina, neurotransmissores que interferem na liberação dos demais”, completa Mura.
Os tratamentos empregados em casos de esquizofrenia também estão relacionados a estas substancias. “A maioria dos medicamentos utilizados nas intervenções, assim como em outras doenças psiquiátricas caracterizadas por sintomas psicóticos, bloqueia receptores específicos da dopamina, em uma tentativa de reequilibrar os circuitos hiperativos”, conclui Rodrigo Pessanha.
Personalidade múltipla ou esquizofrenia?
Casos mais graves de indivíduos diagnosticados com o transtorno podem criar um estigma social negativo e desnecessário. Contudo, é inegável a existência de criminosos que desenvolveram tais comportamentos por causa da esquizofrenia. Os exemplos mais famosos são frequentemente retratados em produções audiovisuais, seja em documentários, filmes ou séries. A notícia mais recente de um caso que vai parar nas telas de cinema é o do norte americano Billy Milligan, condenado por assaltos à mão armada e estupros. Porém, Billy foi absolvido por insanidade mental devido a alegações de seus advogados de que outras duas personalidades de seu cliente teriam cometido os crimes sem ele saber. Com toque de Hollywood, o filme The Crowded Room, ainda em, fase de pré-produção, se baseará na história de Milligan. Na adaptação, ele será interpretado por Leonardo DiCaprio, que mostrará 24 personalidades diferentes.
Porém, a atribuição dessa variedade aos sintomas da esquizofrenia deve ser cautelosa. Segundo Pessanha, “a esquizofrenia é frequentemente confundida com o transtorno de personalidade múltipla, uma condição raríssima e contestada por muitos especialistas que sugerem a invenção sobre sua real existência”. A confusão é, até certo ponto, compreensível se examinar a palavra ‘esquizofrenia’, que “é de origem latina, significando literalmente ‘divisão da mente’. No entanto, são dois tipos de condições psiquiátricas completamente diferentes”, explica Pessanha.
Legalmente, segundo a Artigo 26 do Código Penal Brasileiro, “é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. 
Fonte: Revista Segredos da Mente
  

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